quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Conheço o sal




Conheço o sal da tua pele seca


depois que o estio se volveu inverno


da carne repousando em suor nocturno.


Conheço o sal do leite que bebemos


quando das bocas se estreitavam lábios


e o coração no sexo palpitava.


Conheço o sal dos teus cabelos negros


ou louros ou cinzentos que se enrolam


neste dormir de brilhos azulados.


Conheço o sal que resta em minha mãos


como nas praias o perfume fica


quando a maré desceu e se retrai.


Conheço o sal da tua boca, o sal


da tua língua, o sal de teus mamilos,


e o da cintura se encurvando de ancas.



A todo o sal conheço que é só teu,


ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,


um cristalino pó de amantes enlaçados.

Jorge de Sena
 
Fotografia (C) Avelaneira Florida

2 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

O sal ... das palavras de um poeta enorme - Jorge de Sena!

Li devagar. Como se requer num poema que sabe ao sol do Amor...

Bj

oceanus disse...

... e no sal de todo o poema, a vida em comunhão!

Suprema escolha!

Também li devagar ...num amor em poema com sabor a mar...

uma boa semana

Bjs