no meio dos papéis,critérios,cotações,trocas de impressões...
faz bem uma pausa.
Sobretudo quando ela vem ao nosso encontro na forma de um pequeno doodle. Aparece de mansinho, e instala-se na frente dos olhos. Abre as portas do coração e deixa-se ficar. Atraindo um sorriso e muitas, muitas memórias...
Apetece correr para a estante e desencantar o velhinho livro. Companheiro de tantas tardes. Único a merecer os sublinhados adolescentes de um lápis... Com a capa um tanto gasta, é certo. Mas vivo, inteiro, pleno de descobertas.
Retomar a rosa. O embondeiro. O acendedor de candeeiros. A raposa. Descobrir-lhes rostos, nomes de alguém com quem nos cruzámos pela vida...
Procurar o poço do deserto e encher o coração daquela água que tanto nos intrigou, em outros tempos, mas de que fomos aprendendo a descobrir o sabor nos dias em que já vivemos.
Perceber que uma partida nem sempre pode significar dor eterna. Mas, pelo contrário, a perenidade de quem é único no caminho da nossa existência. Que mesmo fisicamente longe, permanece em cada pedacinho daquilo que nos soube transmitir, da força que nos fez descobrir, dos gestos cheios de afecto que ainda nos afagam o coração , das palavras sábias que só agora sabemos descodificar...
Ao retomar a crueza das estatísticas, as percentagens, os descritores e toda a parafernália de instrumentos que nos assoberbam nos dias que correm, fazemo-lo com um certo receio. Infundado, talvez. Mas ao debruçarmo-nos na mesa de trabalho,sobre os papéis que a cobrem, julgamos sentir por sobre o ombro a suavidade de uma voz pedindo: " Por favor, desenha-me uma ovelha."
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