terça-feira, 10 de março de 2009

AMOR


Amor é um fogo que arde sem se ver,


é ferida que dói, e não se sente;


é um contentamento descontente,


é dor que desatina sem doer.



É um não querer mais que bem querer;


é um andar solitário entre a gente;


é nunca contentar-se de contente;


é um cuidar que se ganha em se perder.



É querer estar preso por vontade;


é servir a quem vence, o vencedor;


é ter com quem nos mata, lealdade.




Mas como causar pode seu favor


nos corações humanos amizade,


se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões, Sonetos
Aguarela © Frédérique Fourquet

4 comentários:

Mare Liberum disse...

Há lá melhor coisa no mundo do que amar e ser amado? Camões cantou o amor com "engenho e arte".

Beijinhos

Bem-hajas!

Branca disse...

As belas contradições do amor...!
Beijinho grande para ti.
Branca

SILÊNCIO CULPADO disse...

Avelaneiraflorida

Sempre lindo este poema. Ninguém o disse tão bem nem encontrou uma definição melhor.

Abraço

Joaquim Moedas Duarte disse...

Escrito há 300 anos e tão fresco na sua linguagem! Eterno!

Mas há uma sucessão de paradoxos que só se explica pela vivência do amor no século XVI: sem liberdade, limitada pela imposição de uma moral repressiva. Amar, nessas circusntâncias, deveria ser um inferno, de facto, como continuava a ser no tempo de Garret ("Este inferno de amar como eu amo").

Viver o amor, hoje, é bem diferente.... Ainda bem!

Bj, Avelã!