Depois de um dia de chuva, um dia
de chuva. A sequência lógica do tempo
manifesta-se no céu cinzento; porém,
um brilho de sol adivinha-se, por trás
das nuvens, e o homem espera
que depois da chuva venha o sol e que
o sol apague o cinzento das nuvens.
0 tempo, assim, dá-nos a imagem
do que podemos esperar, e ajuda-nos
a viver, nestes dias de chuva, o frio
sentimento do inverno: como se o sol
e a chuva não fizessem parte
desse mundo natural, que olhamos
como se fosse um espelho da alma.
As nuvens não se importam
com isso; e vão cobrindo, à medida
que a tarde avança, a esperança
do verão. Só os pássaros, batendo
as asas contra o céu, nos dizem
que depois do tempo outros tempos
virão, para além de nós.
E a breve alegria do seu voo
é um raio de sol neste dia de chuva.
Nuno Júdice
Imagem(C) Jeffrey Batchelor
2 comentários:
há sempre esperança que venha o que mais ansiamos
... eu gosto mesmo de Nuno Júdice! Posso dizer que é o meu poeta 'vivo' mais íntimo!
Um dia destes fui ouvir uma conferência em que Júdice fazia parte da mesa! Fui lá pelo poeta, mas... o que gosto dele é mesmo o que põe em poesia...
Um beijo,
Enviar um comentário