sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ode ...excerto...


Pão,
com farinha
água
e fogo
te levantas.
Espesso e leve,
reclinado e redondo,
repetes
o ventre
da mãe,
equinocial
germinação
terrestre.
Pão,
que fácil
e que profundo tu és:
no tabuleiro branco
da padaria
estendem-se as tuas filas
como utensílios, pratos
ou papéis,
e de súbito a onda
da vida,
a conjunção do germe
e do fogo,
cresces, cresces
de súbito
como
cintura, boca, seios,
colinas da terra,
vidas,
sobe o calor, inunda-te
a plenitude, o vento
da fecundidade,
e então
imobiliza-se a tua cor de oiro,
e quando já estão prenhes
os teus pequenos ventres
a cicatriz escura
deixou sinal de fogo
em todo o teu doirado
sistema de hemisférios.
[...]
Pablo Neruda ( tradução de Fernando Assis Pacheco)

Imagem(C) flickr.com

2 comentários:

Lilá(s) disse...

Na zona onde moro existem vários monumentos a Pablo Neruda, gosto do seu poetar e a tua imagem trouxe-me uma vontade de comer esse pão de padaria...
Bjs

Joaquim Moedas Duarte disse...

Cheira a pão em forno de lenha esta poética de Neruda.
Que nunca nos falte este pão, Avelã!

Bj