quarta-feira, 14 de abril de 2010

Viagem



Há olhos que só olham o sonho; e, quando
o sonho se dissipa, ficam cegos.

Há pontes por onde não se passa, no inverno,
embora ninguém as guarde: pontes
sem arcos, abstractas como um arco-íris
e frias como a chuva da madrugada.

Um campo de erva que amadurece;
o feitiço fútil dos faróis quando a manhã
limpa as últimas névoas;
um bater de pálpebras como asas:

imagens que lembro

e me restituem os olhos
com que avisto a entrada da cidade.

Nuno Júdice

Pintura (C) Jeffrey Batchelor

2 comentários:

Lilá(s) disse...

Gosto dele.
Bjs

GS disse...

Continuo convicta (pela sensibilidade que me guia) que Nuno Júdice é o poeta contemporâneo que mais me toca!

Lindo! Como só ele sabe por palavras em verdadeiro acto poético!

Excelente fim-de-semana!
Um beijo,