Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões, Sonetos
Aguarela © Frédérique Fourquet
4 comentários:
Há lá melhor coisa no mundo do que amar e ser amado? Camões cantou o amor com "engenho e arte".
Beijinhos
Bem-hajas!
As belas contradições do amor...!
Beijinho grande para ti.
Branca
Avelaneiraflorida
Sempre lindo este poema. Ninguém o disse tão bem nem encontrou uma definição melhor.
Abraço
Escrito há 300 anos e tão fresco na sua linguagem! Eterno!
Mas há uma sucessão de paradoxos que só se explica pela vivência do amor no século XVI: sem liberdade, limitada pela imposição de uma moral repressiva. Amar, nessas circusntâncias, deveria ser um inferno, de facto, como continuava a ser no tempo de Garret ("Este inferno de amar como eu amo").
Viver o amor, hoje, é bem diferente.... Ainda bem!
Bj, Avelã!
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